917 Diaries

by Fernanda Brandao

Tuesday

5

November 2013

Entrevista: Francisco Tellechea

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O entrevistado de hoje é uma pessoa muito especial: Francisco Tellechea

Esse brasileiro do Sul do Brasil – antenadíssimo e com um alto-astral super contagiante – faz parte da equipe do talentosíssimo diretor de criação Giovanni Bianco aqui em NY.

Ele deu essa entrevista para o blog contando um pouco sobre sua vida aqui na big apple, seus lugares preferidos e um pouco da sua relação com a moda. Imperdiviel!

Friend, obrigada pelo carinho e pela honra!

 

Você é do interior do Rio Grande do Sul no Brasil, como é que você veio parar em NY?

Nasci em Uruguaiana e mudei para Porto Alegre com 9 anos, onde morei a maior parte da minha vida e me formei em Administração com ênfase em Marketing na ESPM. Quando eu estava me formando, em Agosto de 2010, estava com uma sensação de que precisava morar fora, não aguentava mais ficar no Brasil. Eu tinha acabado de voltar de Londres, de onde voltei porque precisava apresentar o trabalho de conclusão da faculdade.  Eu sempre gostei muito de filme e eu tinha vontade de trabalhar com cinema, então eu olhei um curso de produção na NY Film Academy. Nunca tinha vindo pra NY, mas sempre tinha tido vontade, e esse curso era rápido e não precisava de visto de estudante. Demorei apenas duas semanas entre decidir vir para NY estudar e me mudar para cá. Cheguei em NY, fiz esse curso de produção, trabalhei em 10 curtas no total. Também escrevi e dirigi e editei dois curtas meus e trabalhei nos dos meus amigos. Éramos um grupo de cinco e dividíamos as funções em cada um dos curtas. Depois de ter trabalhado nos dez curtas e já no final dos três meses, eu estava desesperado que eu tinha que voltar pro Brasil e eu não queria de jeito nenhum voltar para lá.

E ai, como foi? Resolveu ficar de vez em NY?

Não, porque eu tinha que voltar pra compromissos familiares. Ai eu voltei e eu estava jantando com uma tia e ela falou: “você é super antenado, tenho que te apresentar uma pessoa. Você tem que conhecer o Giovani Bianco com quem eu trabalho, você tem que trabalhar com ele.” E eu disse, não eu não posso, pois estou indo fazer um estagio no filme do Jaime Monjardim. Ai fui pra SP pro São Paulo Fashion Week, conheci o Giovani e ele disse para eu vir para NY  que faríamos uma entrevista. Voltei para o Rio e conversei com o Jaime e sobre a oportunidade. Perguntei o que eu deveria fazer, e pedi o conselho pra ele, pois ele é muito amigo da família. E ele disse, vai pra NY, porque trabalhar com esse cara [Giovani] é uma oportunidade única na vida e sua vaga estará sempre aqui. E isso tudo aconteceu entre dezembro e fevereiro. Abril eu estava em NY já com a entrevista marcada no Giovani. Fiz a entrevista com a Project Manager e comecei a trabalhar lá como estagiário.

E hoje, como está sua função na empresa?

Então, eu estagiei por um ano e quando fechou meu um ano eu recebi uma proposta pra trabalhar na Vogue Duomo. Porem o Studio me oferecereu ser Account Manager – que seria o contato entre o cliente e a empresa, cuidando dos clientes brasileiros do estúdio – e eu aceitei trabalhar com eles.  E isso faz um pouco mais de um ano e meio, e agora eu fui promovido para Project Manager. Eu participo de todos os projetos e ainda cuido das minhas contas na empresa.  Bem a vida nova-iorquina corrida. Mas isso que é bom e faz dessa cidade ser o que é né? Então foi assim que eu comecei lá e eu amo trabalhar lá.

Eu sempre gostei de moda mas sabe aquela coisa, eu gosto de moda mas eu não sei se eu quero trabalhar com moda? Não sei se eu queria. Acho que eu talvez tivesse um medo. Mas eu sempre gostei de marketing, desde que eu comecei a faculdade. Quando eu vi a oportunidade em moda ligada ao marketing, isso foi a junção perfeita.

Como é seu trabalho no dia-a-dia?

Nós somos tanto um estúdio gráfico como uma agência de branding. Então, dependendo do cliente, a gente faz diferentes tipos de trabalho. Tem clientes – a maioria deles – a gente faz desde a criação até o conceito da campanha deles e cuida de todos o processos de criação do conceitos e acompanhamento do shooting e Giovani é diretor criativo e de arte e a gente faz o pós produção também. Fazemos o pré, o shooting e o pós produção. Da criação do conceito ate a campanha estar impressa na revista. Mas a gente também faz a criação de logo para diferentes empresas. Então tem algumas empresas que a gente faz desde a criação do logo até a confecção de toda a identidade e tudo envolvendo a marca em questão. E nós também criamos todos os convites pro fashion week dos nossos clientes. Nós passamos todo o material gráfico para eles. É uma correria enorme!

As pessoas pensam só na moda, nas fotos que saem na Vogue… As pessoas não imaginam, na realidade, a falta de glamour que envolve nosso trabalho; glamour zero. Sim, tem uma partezinha que é glamorosa, mas e é só, tipo um por cento; um curto momento durante as fotos, depois de mais de duas horas de trabalhos intensos em um shooting, quando você olha e pensa; “é nossa, esse é o glamour da moda.” Tem todo um trabalho por trás, muitas noites em claro e muitas pesquisas, muita dedicação.

Quando você começou a pesquisar sobre esse trabalho, teve alguma coisa que realmente te chamou atenção?

Eu adoro o início de qualquer trabalho, toda a pesquisa envolvida, a criação…. Gosto muito também dos trabalhos do Giovanni de anos atrás, quando ele começou Dsquared2. Era uma coisa meio sombria, tipo bem sexy, algo totalmente diferente do que todo mundo estava fazendo, então eu gosto bastante daquela época. Também tem os editoriais da Vogue Brasil que o Giovanni fazia que são incríveis e tem vários bem interessantes. Eu me identifico muito com a estética que o Giovanni tem; é uma coisa moderna, mas ao mesmo tempo clean. E na minha opinião, eu realmente gosto de tudo que ele faz. Eu o admiro muito, então isso contribui muito também.

E tem alguma campanha que você fez parte e que você pensa; nossa, essa aqui foi bem especial! Seja por um trabalho que deu certo, algo que você tenha afinidade com a marca… Sempre tem um que mexe mais com a gente.

Que eu tenha trabalhado mais diretamente, eu amei a campanha de outono inverno da Arezzo 13 que a gente fez com a modelo Sky Ferreira e Inez & Vinoodh, um dos meus fotógrafos preferidos. Essa foi tipo “Oh-meu-Deus” e foi uma que eu trabalhei diretamente e que eu realmente amei. E voltando na historia do estúdio, tem tantas, é muito difícil escolher..  Acredito que o Secret Project da Madonna foi outro trabalho muito interessante. Alem de toda a idéia política por trás [de se fazer uma revolução, para que as coisas e a cabeça das pessoas mude] é um projeto muito lindo, o vídeo, as imagens… E trabalhar com Steven Klein também é sempre um grande aprendizado com a visão dele e a estética forte que ele possui.

 

arezzo

MADONNA_MDNA_001

Por causa do seu trabalho, desse envolvimento com arte e moda, tem algum cliente que passou a ter um significado especial para você?

Então, dos nossos clientes, eu sou enlouquecido pela Miuccia Prada – a marca Miu Miu como cliente – eu a acho um gênio, simplesmente excepcional. Também admiro muito a Donatella Versace por estar reconstruindo o império que tinha caído desde que o irmão morreu e ela está voltando com tudo. A Versace, de dois anos para cá, tem batido recordes de faturamento, principalmente desde que a gente começou a trabalhar com eles. Foi uma parceria que deu certo. Mas a MiuMiu/Miuccia, é imbatível mesmo. Toda a estrutura estética dela e toda a historia que ela montou… Você percebe o quanto tudo é muito bem pensado, a coleção, o cenário, tudo esta ali por um proposito. Ver cada modelo que está na passarela, o casting… Tudo é  realmente milimetricamente pensado e totalmente voltado para o público e consumidor deles. Eles pensam profundamente no consumidor MiuMiu e Prada de uma forma que eu admiro muito. Eles trabalham diretamente para o cliente, que é o que todo mundo deveria fazer, mas por incrível que pareça, nem sempre acontece assim.

Impressionante como você começa a entender o outro lado – digo meu produto final como consumidor – você  passa a gostar mais ou menos da marca por entender todo esse processo. Você as vezes passa a admirar marcas que talvez não fosse se identificar tanto como consumidor.

Eu, sem dúvida, passei a admirar a moda ainda mais depois que eu passei a trabalhar e ver como o trabalho é minucioso e bem pensado. Você nota, claro,  em como as coisas são totalmente focadas em coisas que normalmente não prestaríamos a devida atenção e isso abre seus olhos.

Miumiu Springsummer13

Versace

 

O que você diria para as pessoas que querem trabalhar nessa área, com direção de arte.

Ah, se falassem quero ir pra NY e trabalhar com isso?  Eu diria que estude muito!!! Sobre história, fotografia, arte, a estética, como a estética mudou… Mas ao mesmo tempo que a estética mudou, a gente ainda volta e revisita os antigos. Então é importante saber o background e saber o que aconteceu desde o inicio pra dar embasamento ao novo. Tem de ser muito apaixonado por arte porque tem que se esforçar muito.

Essa rotina para quem trabalha nesse meio não é brincadeira. Como você faz, quando precisa relaxar mas não pode sair de NY?

Eu vou correndo pra academia fazer meu spinning ou correr na esteira mesmo.  São os meus dois vícios e válvulas de escape. Alem de caminhar pela cidade, outra coisa que me relaxa bastante.

Eu sei que você também curte muito ir a restaurantes. Quais são os seus preferidos?

Isso é estranho em NY, porque, para mim, é como um ciclo e muda sempre. Eu já tive restaurantes favoritos que hoje eu penso; “nossa como eu gostava daquilo?”

Cada restaurante é para um momento especifico. Se for pra ser uma coisa mais descontraída e pra sair, eu amo o Acme. A comida é ótima, o ambiente é ótimo, o pessoal é bonito.  O que costuma, inclusive, ser uma unanimidade no pessoal da moda (risos). Eu gosto muito do Gema também. Em relação aos mais tradicionais, nossa é tão difícil , tem tanta opção. Italiano eu gosto do Morandi no West Village. Eu morei por seis meses ali ao lado e o Morandi era a minha segunda casa e por isso tem um lugar especial no meu coração. Eu gosto muito de lá.  Quanto aos turísticos, eu gosto do Standard Grill, que, pra mim, tem o melhor polvo de NY. O Souen eu gosto muito para uma comida saudável. Mas se for pra escolher o ultimate one seria o Acme mesmo. Mas eu já não levo amigo de fora lá, porque já está começando a ficar famoso, então perde aquele charme extra de ser desconhecido. Mas daqui a pouco aparece o novo Acme. Outro que estou apaixonado, e que fica no meu bairro [ele mora no East Village] é o Back Forty.

Eu não poderia deixar de perguntar: e o seu museu favorito aqui em NY?

Ah, Momaaaa (risos). Eu amo arte moderna! De pintura, eu gosto muito da arte abstrata e expressionista do Jackson Pollock, das cores, do mix de cor dele. Gosto muito de Picasso também. Em relação a foto, se for pensar num todo, tipo vivos e mortos, seria Richard Avedon que eu adoro e que acho que ele revolucionou tudo. Em  relação aos mais atuais, eu escolheria Inez & Vinoodh (Inez van Lamsweerde and Vinoodh Matadin ), pois adoro a sensibilidade deles. A criatividade por trás de todo o processo deles me fascina e eles são realmente muito bons para fotografia e vídeos.

Quais seria seu weekend getaway? Pra onde você mais gosta de ir quando quer sair de NY mas não da para viajar para um lugar muito distante?

Eu gosto muito de Fire Island, porque eu consigo balancear a vida nativa de lá. O fato de não ter prédio nem carro e só poder caminhar mesmo. As casas e praias nativas e quase desertas, a beleza do horizonte… Ver o mar é muito importante para eu me sentir livre. Ao mesmo tempo que tem toda essa tranquilidade, tem toda a diversão em festas, bares e restaurantes. É um lugar bem bacana, dá pra balancear bem as duas coisas.

Você deve viajar muito a trabalho já que seus clientes são bem internacionais. Tem alguma cidade que acabou te despertando um novo olhar pelo local?

A primeira vez que eu fui a Los Angeles eu não gostei.  Voltei pensando; “Não, não gosto. Não quero. Argh. Já conheci e está ótimo!”  Daí, quando eu tive que voltar a trabalho eu não estava nem um pouco animado. Mas  dessa ultima vez eu vi LA com outros olhos e eu fiquei um pouco menos arredio. A primeira vez que eu fui para lá, foi apenas uma combinação de muita festa, nightclubs, algo muito superficial. Mas dessa vez com o trabalho, e também vivenciando mais a rotina de lá, eu tive uma visão mais profissional e real mesmo. Consegui ver que lá tem uma vida cultural muito rica que eu não sabia. Várias exposições boas que estavam acontecendo lá. Eu não sabia que a vida cultural de arte em L.A era tão boa. Eu sabia que algumas galerias de arte haviam começado lá, como a Gagosian por exemplo, mas não sabia como era rico como é. Fiquei bem impressionado mesmo.

Qual o seu cantinho preferido no mundo?  

Minha resposta vai ser de uma pessoa muito mimada: a casa da minha mãe! (Risos!) Não é necessariamente a cidade, é o lugar mesmo. Não é a ligação com o Sul [do Brasil], mas com a casa dela mesmo e de ser muito ligado a minha família. Eu falo o dia inteiro com as minhas irmãs – da hora que eu acordo até a hora de dormir – até acabar a bateria. Se eu não falo com a minha mãe no telefone, sem contar o whatsapp,  por mais de dois dias já é estranho. Mas uma cidade, seria mesmo NY, não me imagino em outro lugar.

O que te faz amar tanto NY?

É um love and hate, senão tem algo errado. Altos e baixos.  Mas o que me fascina em NY, é que é uma cidade que permite todo mundo ser quem realmente é. Te permite expor sua personalidade de uma forma que ninguém te julgue e as pessoas te valorizarem por isso. Valorizam o seu trabalho, valorizam como você chegou onde chegou  e quem você é. Isso é o que eu mais admiro e que me faz brilhar o olho aqui.  A cidade te dá a oportunidade de ser quem você quer ser.  É como a musica.. “if you make it here, you can make it anywhere”. Eu sei que todo mundo fala isso, mas é verdade. Mas como eu disse, é um love and hate com certeza também. Tem dias que você só pensa que quer voltar pra casa mesmo [Brasil], mas aí no dia seguinte passa, você sai de casa e dobra a esquina e vê o taxi amarelo e tudo volta ao normal; Eu te amo de novo NY! É que nem o alivio  que dá quando vou ao Brasil e na hora de ir embora eu fico pensado: “Ah, quem sabe eu não volto para cá?” Ai no avião você fica mais ou menos, e no minuto que você aterrissa no JFK, você finalmente sente; agora sim, cheguei em casa!  E eu só fico pensando; como é que eu posso não voltar pra cá?

A segurança também pesa muito positivamente e é um luxo aqui. Eu caminho para o trabalho. Quando é que eu vou poder fazer isso no Brasil? Nunca! Eu as vezes volto de jantar a pé pra casa. A cultura que a cidade oferece, o transporte público que realmente funciona… é uma cidade democrática nesse sentido e você pode ter muita coisa de qualidade por menos.  Tudo nasce e renasce aqui… Eu estava lendo uma entrevista outro dia, e perguntaram para a pessoa o que era uma das coisas que ela mais gostava de NY. E ela respondeu que adorava trabalhar numa empresa em que a pessoa que está em uma hierarquia abaixo que a dela pode ter a chance de ter as mesmas oportunidades que ela. Eu acho que isso é incrível aqui e é uma coisa que representa a cidade.

Francisco looks

Você é uma pessoa super estilosa. Como você definiria seu estilo e quem são seus style icons?

Acho que nao tenho uma definição de estilo.  Tem horas que gosto de roupas mais casuais, outras que prefiro algo mais formal.  Depende do meu humor.  Mas busco sempre algo que tenha um corte e tecidos bons. Sou muito democrático para roupa, porque gosto de varias coisas diferentes e sempre tento mescla-las. Em relação aos ícones de estilo vou mencionar dois bem diferentes um do outro.  Amo o Tom Ford e a sua elegância impecável e a casualidade e atitude do James Dean.

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